Religião e Poder é uma plataforma que oferece dados abertos, artigos, pesquisas e reportagens e referências bibliográficas sobre a interface da religião com a política institucional no Brasil. Também monitora a atuação de agentes políticos com identidade religiosa nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Inicialmente, foi concebida pelo Instituto de Estudos da Religião, o ISER, em parceria com a organização de mídia Gênero e Número com o objetivo de oferecer uma base aberta de dados sobre a atuação de parlamentares com identidade religiosa no Congresso Nacional, além de análises e reportagens sobre o tema. Gradativamente, a plataforma passou a ser alimentada também com dados de diferentes pesquisas em andamento no ISER, como no caso das Eleições Municipais de 2020. 

Hoje, Religião e Poder publica conteúdos inéditos semanalmente, todos produzidos por pesquisadores do ISER, pesquisadores colaboradores e organizações parceiras. Tem como objetivo se tornar uma fonte sólida e reconhecida de dados e informações para fomento de conteúdo jornalístico, estudos e pesquisas que contribuam para fortalecer o processo democrático e a garantia dos direitos humanos no Brasil.

Histórico do ISER nos estudos desta temática

Fundado em 1970 por pesquisadores interessados nas relações entre religiosidade e transformação social, o ISER nasceu em meio ao período mais rígido da ditadura civil-militar brasileira. Apesar do contexto pouquíssimo favorável às discussões políticas, muitos dos estudos e análises empreendidos pelo ISER à época se propuseram a interpretar conjunturas da política institucional à luz das manifestações religiosas, coadunando, assim, religião e política. A partir da década de 1980, entretanto, é que o tema dos religiosos na política institucional ganha centralidade nas pesquisas iserianas, mas vale destacar que a revista Religião e Sociedade, criada em 1977 e apoiada desde então pelo ISER, sempre publicou artigos que debatiam o imbricamento entre religião e política em suas variadas dimensões e diferentes escalas.

Ainda no período de abertura política, por exemplo, o ISER se dedicou a pensar o papel de católicos e evangélicos nas eleições de 1982, tanto na condição de eleitores quanto na de candidatos. Os olhares e apontamentos desses campos estão registrados nas quatro primeiras edições das Comunicações do ISER (1982-83). Foram muitos os pesquisadores que contribuíram para esses estudos iniciais sobre eleições, dentre eles Regina Novaes, que etnografou reuniões com candidatos “crentes” e lideranças das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica na Baixada Fluminense. Em 1985, o ISER publicou, também de sua autoria, o livro “O negro evangélico”, um esforço inédito de pensar raça e religião. Houve também pesquisas sobre os novos partidos que surgiram na arena política após o fim do bipartidarismo. 

Contudo, o ISER não tratou apenas do engajamento político de cristãos. Nas Comunicações do ISER nº 7  (1983), também lançou notas sobre candidatos umbandistas naquele mesmo pleito. Um ano antes, em 1982, o ensaio intitulado “Umbanda e política no Rio de Janeiro”, de Tema Pechman, havia sido publicado na edição nº 08 do periódico Religião e Sociedade.

Ao longo da década de 1980, textos sobre a inesperada morte de Tancredo Neves e o papel da religião na transição para a democracia ganharam espaço em edições das Comunicações ISER, demonstrando o empenho do instituto em tecer análises conjunturais da política institucional brasileira. Também na década de 1980, mais precisamente em 1986, publicamos a edição de nº 22 do Comunicações do ISER intitulada “Catolicismo: uma identidade católica?”. Nela, encontram-se textos sobre identidade católica e a relação entre cristãos e política. Quatro anos depois foi lançada a edição nº 38, totalmente dedicada a analisar a presença católica nas eleições a partir de textos sobre a cobertura na imprensa, conservadorismo, representatividade e conflitos com as elites católicas. 

Em 1994, o ISER desenvolveu a importante pesquisa “Novo Nascimento – os Evangélicos em casa, na Igreja e na Política”, que ainda hoje é referência para pesquisas acadêmicas e ajudou a pensar as transformações religiosas na cultura brasileira desencadeadas pelo crescimento evangélico. Elaborada durante a campanha política presidencial daquele ano e tendo como base a região metropolitana do Rio de Janeiro, a pesquisa mostra detalhadamente a proveniência dos evangélicos brasileiros, seus hábitos, comportamentos e opiniões. Coordenada pelo antropólogo Rubem Cesar Fernandes, contou com contribuições importantes de Cecília Mariz, Clara Mafra, Regina Novaes, Leandro Piquet, Pierre Sanchis e Otávio Velho. 

Já nos anos 2000, a revista Religião e Sociedade também publicou artigos que refletiam sobre catolicismo e política. Destaca-se o artigo denominado “Religião e Política no Brasil Contemporâneo: uma análise dos pentecostais e carismáticos católicos” de autoria da socióloga Maria das Dores Machado, publicado em 2015. Vale lembrar que crescimento da presença de religiosos na esfera pública, em especial dos evangélicos, é uma forte preocupação desde os anos 1990. Por isso, é importante destacar as consultorias que o ISER prestou ao IBGE na formulação das perguntas e na categorização dos dados sobre religião a partir do Censo 1991. Essa parceria segue até os dias atuais. 

Em períodos mais recentes, especialmente a partir de 2010, quando identificou-se uma emergente articulação político-religiosa em reação ao Plano Nacional de Direitos Humanos III (PNDH3), o ISER se dedicou a pesquisas orientadas à atuação de evangélicos no Congresso Nacional. Em 2013, foi publicado o livro “Religião e Política: uma análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil”, coordenado por Christina Vital e Paulo Victor Leite Lopes. Em 2017, um segundo livro foi publicado: “Religião e Política: medos sociais, extremismo religioso e as eleições 2014”, dando continuidade às investigações da dupla de pesquisadores. 

Depois de 51 anos, o ISER mantém seu compromisso fundamental de contribuir com a reflexão sobre religião e política no Brasil, seja através de pesquisas como as aqui disponibilizadas, seja através da publicação dos Cadernos do ISER, seja dando suporte institucional à Revista Religião e Sociedade, que, em 2021, comemora 44 anos.

Quem faz a plataforma

Lívia Reis é antropóloga, pesquisadora de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ e coordenadora de Religião e Política no ISER.

Magali Cunha é doutora em Ciências da Comunicação com estágio pós-doutoral em Comunicação e Política. Pesquisadora em Comunicação, Religiões e Política. Jornalista, editora-geral do Coletivo Bereia – Informação e Checagem de Notícias. Pesquisadora do ISER.

Matheus Cavalcanti Pestana é cientista político, professor na Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV-ECMI), doutorando em Ciência Política (IESP-UERJ) e pesquisador no ISER. 

Laryssa Owsiany é antropóloga, doutoranda em Ciências Sociais (PPGCS / UFRRJ) e pesquisadora no ISER.

Elena Wesley é jornalista, com graduação em Comunicação Social (UFF) e pós-graduada em Comunicação Integrada, Digital e Gestão Estratégica de Conteúdo.

Equipe

ISER

Direção executiva
Ana Carolina Evangelista

Direção executiva adjunta
Clemir Fernandes

Coordenação
Lívia Reis

Pesquisa
Matheus Pestana
Laryssa Owsiany

Editoria
Magali Cunha

Consultoria
Christina Vital e Regina Novaes


Parceria com Gênero e Número